O que a faculdade não me ensinou sobre a atuação em Recursos Humanos

Por Felipe Carnicelli Iotti

Felipe é atualmente Gerente de Recursos Humanos com atuação de Business Partner. Há seis anos atua em uma indústria farmacêutica, já tendo passado pelas áreas de Remuneração, Recrutamento e Seleção, Indicadores, Treinamento e Desenvolvimento e Business Partner, atendendo desde plantas fabris à áreas comerciais.
No momento cursa MBA em gestão Empresarial pela Fundação Instituto de Administração (FIA) e é formado em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP).

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A prática de RH em nada me lembrava as aulas que tive em organizacional. O ambiente altamente dinâmico, os temas diversos, a necessidade de pensar fora da caixa, de criar soluções diferenciadas, a pressão pelas entregas, tudo me encantava.

Durante minha graduação em Psicologia me deparei com diversas possibilidades de carreira.

A priori, minha ideia era atuação clínica. Com o passar dos semestres, de acordo com os estágios que fazia, pude experienciar diversas práticas, incluindo a clínica, a hospitalar e orientação profissional. Infelizmente, não me encontrei.
Já no quarto ano, alguns colegas passaram em processos seletivos para estágios em Recursos Humanos em grandes empresas. Até aquele momento, eu não tinha conhecimentos sobre a área. Durante as aulas de Psicologia Organizacional, o setor de Recursos Humanos foi pouco abordado e com uma visão muito teórica; não havia compartilhamento de vivências práticas ou discussão de cases. Além disso, falava-se de diversos tipos de organizações, não dando muito enfoque para o ambiente empresarial.
Trocar experiências com meus colegas foi mais enriquecedor e, ao entender a atuação que tinham, pareceu-me muito alinhado ao meu perfil. Busquei então um estágio na área e, logo ao começar, percebi que ali era o meu lugar.
A prática de RH em nada me lembrava as aulas que tive em organizacional. O ambiente altamente dinâmico, os temas diversos, a necessidade de pensar fora da caixa, de criar soluções diferenciadas, a pressão pelas entregas, tudo me encantava.
O RH, por vezes, é generalizado, banalizado. Muitas pessoas não entendem qual sua real função. Mesmo dentro das organizações, é comum me deparar com pessoas, até mesmo em cargos gerenciais, que não entendem qual o propósito desse setor. Acredito que isso ocorre porque o RH é um setor tão amplo, com tantas subdivisões e com responsabilidades tão diversas que acaba por confundir as pessoas.
Ao me confrontar com meu eu do passado, estudante de Psicologia que nada sabia sobre o trabalho em RH, percebi que a faculdade não te dá os conhecimentos necessários para trabalhar nesse setor. A verdade é que aprendemos muito mais sobre Recursos Humanos com cursos voltados para essa área, congressos de RH e, principalmente, colocando a “mão na massa”. Pensando nisso, resolvi listar 5 fatos sobre RH que a vida acadêmica não nos ensina:

1 – O RH é subdividido em setores diferentes.

Muitas pessoas acham que RH se resume ao Departamento Pessoal. Outras já entendem que são responsáveis por recrutar novos talentos e realizar treinamentos. De forma resumida, podemos dividir o RH em três grandes áreas. Vale lembrar que cada empresa faz divisões do RH de acordo com sua estratégia.

  • Áreas especialistas: em geral, reportam para um centro de excelência e são responsáveis por entregas mais técnicas. Existem diversas subdivisões, dependendo das empresas, mas as mais comuns são Recrutamento e Seleção, Treinamento e Desenvolvimento, Gestão de Talentos e Remuneração.
  • Áreas de serviço e operação de RH: responsáveis pelas entregas operacionais de RH (e as mais famosas) como benefícios, frota, folha de pagamento, admissões e demissões. Possuem uma rotina bastante intensa, uma vez que qualquer falha desse setor trará impacto forte para os colaboradores. Imagine um mês em que o salário não cai no dia! Ou como o colaborador se deslocará se o Vale Transporte não for debitado.
  • Business Partners – São os RHs dedicados ao negócio. Possuem visão generalista e são o primeiro ponto de contato com os clientes. Por estarem inseridos no negócio, são responsáveis por colherem as demandas e trabalhar as entregas com as áreas especialistas.

2 – Gestão de pessoas não é papel só do RH

É comum ouvirmos que qualquer tema ligado a gestão de pessoas é responsabilidade do setor de Recursos Humanos.

Na verdade, o RH é o responsável pelas políticas e ferramentas de gestão de pessoas, assim como deve treinar os líderes da organização nessas temáticas e tem papel consultivo muito importante em todos os assuntos que tangem esse tema.

Porém, quem faz a gestão de pessoas são os líderes. São eles os responsáveis por fazer a gestão de seus times, fazer as promoções, mapear ações de desenvolvimento, decidir quando é necessário contratar ou admitir alguém.

O funcionário de RH deve auxiliar o gestor nas tomadas de decisão, dar consultoria nas decisões difíceis e garantir que os processos sejam feitos da forma correta e sigam as políticas e valores da empresa.

3 – Estrutura de Cargos e Salários

Um dos tópicos mais importantes de RH é a estrutura de cargos e salários de uma empresa. Esse trabalho é desempenhado pelo time de Remuneração, uma das áreas especialistas.
Durante a realização de pesquisas de clima, é normal verificarmos que muitos funcionários não sabem como seus salários são definidos; algumas vezes, mesmo dentro de RH há pessoas que não tem esse conhecimento.
A escolha das posições que formam uma determinada área e os salários de cada nível não são escolhidos arbitrariamente. Inicialmente é feito um estudo para determinar qual o escopo de uma área e o mapeamento de quantos funcionários (assim como a senioridade dos mesmos) são necessários para realizar as entregas.
Já os salários são determinados por pesquisas de mercado. O setor de remuneração, em parceria com consultorias especializadas, faz uma pesquisa anual para verificar qual o salário tem sido praticado para cada posição dentro de um mesmo ramo. Isso é importante pois uma mesma posição, em empresas com atuações diferentes, será remunerada de forma distinta. Utilizando uma posição de Engenheiro Mecânico como exemplo, o salário desse profissional em uma empresa automotiva será maior que o do mesmo profissional que atua em uma planta fabril de alimentos e é responsável pela manutenção da área produtiva.
Assim, ao ter conhecimento dos salários praticados para cada posição do ramo, o setor de remuneração pode avaliar se os salários pagos aos funcionários de sua empresa estão competitivos e, dessa forma, podem aumentar suas chances de atração e retenção de talentos.

4 – É necessário conhecer o negócio

Por ser uma área de suporte ao negócio, muitos acham que o RH não precisa ser um profundo conhecedor dos processos operacionais da empresa ou estar ciente de todas as estratégias atuais e futuras da organização.
O papel de RH vem evoluindo e, com isso, tem se tornado uma área cada vez mais estratégica nas empresas.

Antigamente o RH tinha funções claras e definidas que eram determinadas pelos clientes internos: Contrate pessoas, demita aquele funcionário, prepare uma proposta de promoção, preciso dos indicadores, etc…

Hoje, se o RH não estiver completamente alinhado com os desafios que a organização está enfrentando, não poderá atuar de forma estratégica, propondo soluções personalizadas e alinhadas para cada desafio.
Cada vez mais encontramos empresas em que o RH tem participação direta no Board de Executivos, sendo convidado para todas as reuniões do negócio, mesmo que o tema não seja gestão de pessoas. Isso ocorre para que o RH tenha pleno entendimento do momento da empresa e assim possa, de forma proativa, desenhar projetos que corroborem para o sucesso da organização.

5 – O setor de RH é muito dinâmico

Um dos papéis mais importantes do RH é o de consultoria ao negócio. E, quando se trata de pessoas, temos infinitas possibilidades. Dessa forma, as demandas que chegam ao RH são as mais variadas e, muitas vezes, não há respostas certas ou erradas. As decisões e soluções devem ser pensadas para cada caso, de acordo com suas particularidades.
A principal coisa que a faculdade não te ensina sobre o trabalho em RH é que, muitas vezes, você se deparará com problemas novos, sem precedentes e que você, pelo menos algumas vezes, não saberá por onde começar.
Como dito acima, a melhor forma de aprender o trabalho de RH é “colocando a mão na massa”. A experiência será sempre o maior diferencial de um profissional dessa área.

É importante destacar: experiência não tem a ver com o tempo que você já trabalhou com isso, mas sim, com a quantidade e dificuldade do que se já viveu e enfrentou.

Nesse sentido, o maior ganho que a faculdade de Psicologia pode dar a um profissional de RH é ter escuta ativa, é saber ouvir e interpretar as reais demandas e, como o próprio nome diz, colocar o maior recurso de uma empresa no centro da atenção, o recurso humano.

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